Se a política de hoje ainda parece coisa da República Velha, tá na hora de perguntar: como é que o voto de cabresto ainda rola depois de tanto tempo?

Foi isso que veio à tona num levantamento da Folha de S. Paulo na Justiça do Trabalho: empresas de Minas e de outros cantos do país foram condenadas por tentar empurrar o Bolsonaro nas eleições de 2022, usando aquela velha mistura de promessa de vantagem e pressão no estilo voto de cabresto.
Teve funcionário idoso sendo mandado embora só por dizer que votaria no Lula. Teve adesivo de Bolsonaro colado nos computadores dos vendedores. Teve até promessa de pernil pra quem votasse “certo”. Essas são só algumas das denúncias que chegaram ao Ministério do Trabalho, e os casos mais absurdos você confere aqui embaixo.
Casos que revoltam:
- Agronelli Ltda. (MG): adesivos de Bolsonaro grudados nas mesas, palestras políticas forçadas e a ameaça velada de demissão caso o PT vencesse. A empresa foi condenada a pagar R$ 10 mil a uma ex-funcionária.
- Radiodoc (SP): pressões explícitas “sofreriam as consequências” se não votassem. E, para aumentar o conluio, ofereceu folga aos funcionários que aparecessem em evento bolsonarista. Negou tudo, mas acabou derrotada judicialmente.
- Sada Bioenergia e Agricultura (MG): demissão de um funcionário de 64 anos que se recusou a colar adesivo. A Justiça apontou clara coação, rejeitando as explicações da empresa.
- Frigorífico Serradão (Betim, MG): “voto que dá pernil é voto que se sustenta”. Distribuição de camisetas amarelas e promessas de pernil para quem provasse que votou em Bolsonaro foram flagradas. Sentença definidora: isso é assédio eleitoral explícito

O que está em jogo
Não se trata apenas da liberdade individual, é a própria democracia que está indo pro buraco, sufocada por essas manobras que forçam o voto do trabalhador do jeito que os patrões querem.
Segundo a professora Eneida Desiree Salgado (UF-PR), esse “voto de cabresto”, reminiscente do coronelismo da Primeira República, ameaça indiscriminadamente a lisura do processo democrático Estado de Minas.
O Ministério Público do Trabalho confirmou isso com números claros: foram 3.145 denúncias de assédio eleitoral durante a disputa de 2022. E isso é só a ponta do iceberg, muitos trabalhadores calaram-se por medo de perder seus empregos.

Será que pagar indenização resolve? Na real, muitas vezes não. É uma resposta atrasada que não muda o clima de assédio político que já tá enraizado nas empresas.
Cadê o freio institucional? Se a empresa acha que vale a pena pressionar ideologicamente os funcionários, até onde o Estado vai agir pra educar e não só punir?
Porque pernil e medo não ganham voto de verdade. Só machucam a consciência de quem vota. E quem paga essa conta é a democracia que é justamente o que garante que a gente tenha voz.
